Por João Sampaio
Jornalista, diretor da Revista Acontece. Começou no jornalismo político em 1996, como repórter, redator e editor nos jornais O Tempo e Hoje em Dia, além da Revista CNT. Atuou como assessor de imprensa do Centro Universitário Uni-BH, Rede de Imóveis Brasil Brokers, Escritório Willian Freire Advogados Associados e Vice-Governadoria do Estado de Minas Gerais. É especializado em marketing político pela Faculdade Santo Agostinho (Montes Claros).
A acirrada disputa pelas duas vagas que serão preenchidas nas eleições deste ano atesta que o Senado Federal é o sonho de consumo de dez entre dez políticos brasileiros. Não é por menos. Para começar, a chamada Câmara Alta garante aos seus ocupantes oito anos de mandato. É como se o político ganhasse duas eleições ao mesmo tempo. Outra “vantagem competitiva” em relação aos pares da Câmara dos Deputados está na maior exposição na mídia. São três senadores por Estado contra dezenas de deputados (no caso de Minas, são 53 federais). Sobra muito mais holofote, claro.
Mas, além destas obviedades, o cargo de senador atrai a cobiça dos políticos sobretudo pela composição da Casa. É um clube hermético, no qual só entra a nata política de cada Estado. Lá estão ex-presidentes, ex-governadores e – o mais importante – futuros presidentes e futuros governadores.
Em Minas, por exemplo, a disputa pelas duas vagas no Senado tem provocado mais brigas entre potenciais aliados que a própria cabeça de chapa para o governo do Estado.
Basta lembrar que o estopim do rompimento do MDB com o governador Fernando Pimentel, pelo menos publicamente, foi a desconfiança de que a ex-presidente Dilma Rousseff teria transferido seu título para Minas, em abril, na intenção de se tornar a candidata do PT ao Senado. A vaga estava reservada para o presidente da Assembleia Legislativa, Adalclever Lopes (MDB), que até aquele momento vinha segurando a bancada estadual do seu partido junto ao governo. Agora, não apenas faz vista grossa na tramitação do pedido de impeachment do governador na Assembleia como desembarcou por completo do projeto de reeleição de Pimentel, apresentando-se, inclusive, como pré-candidato ao governo, ao mesmo tempo em que abre negociações que podem incluir a vaga de senador na chapa tucana encabeçada por Antonio Anastasia.
PETISTAS SURPREENDIDOS
Ainda no campo governista, a decisão de lançar Dilma para o Senado desagradou outros caciques petistas que vinham sonhando com a vaga, como os deputados federais Reginaldo Lopes, Miguel Correa Junior e Odair Cunha. Todos passaram estes últimos três anos e meio movimentando-se em direção à candidatura ao Senado.
Lopes até se candidatou a prefeito de Belo Horizonte em 2016, visando maior visibilidade para pleitear a vaga. Apesar do fraco desempenho (ficou em quarto lugar, com 7,2% dos votos), ainda tinha esperanças de ser o escolhido. Odair se firmou como o homem forte do governo Pimentel e, por este motivo, acreditava que a candidatura ao Senado estava para ele tão naturalmente como a tentativa de reeleição está para Pimentel. E Miguel Correa abriu mão da disputa municipal pela Prefeitura de Belo Horizonte em 2016 justamente para arregimentar forças e, agora, disputar o Senado.
SITUAÇÃO DO PCDOB
A entrada de Dilma na corrida ao Senado ameaça ainda a presença do PCdoB no palanque de Pimentel. Sem a garantia que acreditavam ter de vaga na chapa majoritária dos petistas, Jô Moraes e os comunistas mineiros sinalizaram forte disposição de migrar em direção ao colo de Marcio Lacerda (PSB), até então o nome de maior viabilidade dentre aqueles que se apresentam como terceira via, ou seja, fora da disputa tradicional entre PT e PSDB que vem dominando a cena política de Minas há duas décadas.
Para dar sequência a essa negociação, entretanto, Lacerda terá de aguardar a definição do seu partido no âmbito nacional. É que, conforme amplamente divulgado, o PSB pretende indicá-lo como vice do presidenciável Ciro Gomes (PDT) em caso de aliança nacional entre as duas agremiações – uma possibilidade cada vez mais forte desde que o ex-presidente do STF (Supremo Tribunal Federal) Joaquim Barbosa desistiu da candidatura pela legenda socialista.
NINHO TUCANO
Como convém ao peso do cargo, a briga pelo Senado é motivo de puxadas de tapete e cotoveladas também no ninho tucano. O único consenso construído até agora, aparentemente, é que o senador Aécio Neves, ainda que as pesquisas mostrem alguma chance de reeleição, é carta fora do baralho nas eleições deste ano, para qualquer cargo. É um peso que ninguém quer carregar, nem os mais chegados.
No seu partido, todos os caciques se dão por satisfeitos desde que o senador Antonio Anastasia topou entrar no jogo encabeçando a disputa pelo governo. Salvou muitos deputados do naufrágio, ameaçados que estavam por não terem uma candidatura majoritária própria. Rifar Aécio Neves e sacrificar as duas preciosas vagas para o Senado é o de menos neste caso. Questão de sobrevivência política.
Se por um lado está certo entre os tucanos que ninguém irá melar o jogo brigando pelo Senado, por outro lado, com o favoritismo de Dilma Rousseff, as duas vagas na chapa viraram uma apenas. Essa equação é um desafio aos tucanos, pois resolvê-la é uma linha tênue que decidirá com quem entrarão em campo. O noticiário político dá conta de que há conversas com Dinis Pinheiro (SD), Rodrigo Pacheco (DEM), Marcos Montes (PSD) e Alberto Pinto Coelho (PPS), além do emedebista Adalclever Lopes.
PERDAS E GANHOS
Marcio Lacerda (o ex-prefeito de BH está em todas) foi convidado para juntar-se aos tucanos como o candidato do Senado, mas recusou. Sabe que tem lugar garantido no PSB para disputar o governo ou, como foi dito, a vice de Ciro, se for este o caso. Quanto aos demais, fácil antever que mais de um será desagradado, provocando defecções e prejuízos eleitorais à chapa tucana.
É que, para todos eles, não haveria melhor caminho do que arrematar a composição com o tucano na vaga do Senado. Por isso, enquanto Anastasia foge de uma maior definição, os cotados buscam se cacifar alimentando pré-candidaturas ao governo. A intenção, inconfessável neste momento de teatralidade, é mesmo se apresentar ao Senado, mas só lá na frente, depois de construídas as condições de vitória. E isso pede um olho na movimentação de Anastasia, um em Pimentel e outro em Lacerda – sem dúvida, os maiores protagonistas destas eleições em Minas.
MAIS INTERESSADOS
O Senado e suas seduções estão nos planos de “N” outros políticos, como Jaime Martins (PROS), Daniel Nepumuceno (PPS), nome que Kalil guarda para representá-lo neste ano, Iran Barbosa e Antonio Andrada, ambos do MDB, e ainda há o Podemos, cuja liderança maior em Minas, o empresário e prefeito de Betim, Vittorio Medioli, deseja indicar algum aliado para a disputa majoritária, uma vez que ele próprio foi cotado, mas já descartou entrar na corrida por qualquer cargo nas eleições deste ano.
Tem ainda o empresário Josué Alencar (PR). Até então mantendo uma postura de esfinge, Alencar é lembrado como uma peça de encaixe em qualquer dos cargos em disputa este ano, o que inclui desde a Presidência até uma eventual nova tentativa ao Senado (ele foi candidato em 2014, mas perdeu para Antonio Anastasia).
VICE-GOVERNADORIA
Na espera, para fechar a chapa, há ainda a vaga de vice-governador, um cargo que, a despeito da força que já provou ter em nosso país, mostra-se muito menos sedutor que o Senado, a se considerar o apetite de todos pela Câmara Alta, como as articulações em curso têm demonstrado. Por isso, será o último a se fechar, servindo um pouco como “prêmio de consolação” para aquele nome de grande envergadura política, entretanto, preterido na disputa pelo Senado.