Reformar só o ensino médio é como começar a casa pelo telhado…

Por Osvaldo Eulálio, dentista

Todos nós sabemos que a educação no Brasil passa por um momento crucial e que é mais do que necessária uma mudança. A última grande reforma educacional ocorrida no país se deu nos anos 1970 com a lei 5.692, que mexeu na estrutura curricular do ensino e trouxe aspectos positivos e negativos. De lá para cá, o nível do aprendizado nas escolas só se fez cair. Este fato é fácil de se perceber principalmente quando se avalia o desempenho dos alunos no Enem. Deveria-se pensar, portanto, numa reforma de corpo, generalizada e abrangente, que começasse pelo ensino básico, passando pelo médio e culminando no ensino superior, e não apenas no ensino médio. Mudar tão somente a estrutura do ensino médio não resolverá o problema; apenas o mudará de lugar e de nome. É como trocar de roupa sem tomar banho.
O grande entrave dos estudantes está no ensino básico e fundamental, pois é lá que se aprende a base que, se bem alicerçada, permitirá ao aluno prosseguir nos anos vindouros com conhecimentos suficientes para assimilar os próximos conteúdos ensinados. Na atual conjuntura da estruturação da educação, o ensino médio funciona como um grande espelho refletor onde os problemas já cristalizados lá atrás no ensino fundamental aparecem. É do ensino fundamental que vêm os alunos que não conseguem redigir um texto, por mais simples que seja; é de lá que chegam os alunos que não sabem de cor a tabuada, tampouco as quatro operações básicas; é de lá que vêm alguns estudantes que não sabem o que é o “Coliseu“ e, quando sabem o que é, não sabem onde este fica; é de lá que vêm alguns estudantes que não sabem quantos são nem o nome dos estados brasileiros, muito menos os nomes de suas respectivas capitais. Isso apenas para dar alguns exemplos rasos.

As tentativas de se recuperar o prestígio e a eficácia do ensino no Brasil constituem tarefa árdua que deve ser implementada urgentemente e levada a cabo com seriedade pelos sucessivos governos, para então colher os frutos nas próximas duas ou três décadas. Não faz sentido tentar construir a casa começando pelo telhado. Os resultados não aparecerão. Reformar só o ensino médio não dará ao estudante os conhecimentos que ele deveria ter adquirido a quatro anos atrás. Os resultados não virão, o governo gastará fortunas para implementar as mudanças e nós, brasileiros, como sempre, mais uma vez, para não perder o costume, teremos que pagar a conta.
Fonte: Jornal Acontece – Edição 83 – Novembro de 2016 | É permitida a reprodução deste conteúdo por outros meios de comunicação, desde que citada a fonte integralmente.